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quarta-feira, 6 de julho de 2011

Cotas nas universidades públicas: ainda há muito o que discutir.


Um amigo meu, Marconi, tem uma blog muito interessante, que eu recomendo muito, por seus textos criativos e bem-humorados. E hoje, em especial, precisei escrever aqui por conta de um texto que ele publicou recentemente (http://oesquisito.blog.br/2011/07/cotas-raciais-e-sociais-diferencas-a-parte/) e que eu li com coração e mente abertos para ver se mudava de opinião. Recomendo que leiam antes de ler a minha opinião.
Sou, até o momento, contra as cotas nas universidades, por vários motivos que pontuei para ele, em resposta a uma postagem no Facebook (http://mariafro.com.br/wordpress/2011/06/30/alo-alo-racistas-de-plantao-na-universidade-estadual-de-londrina-aluno-cotista-e-o-melhor-aluno-da-universidade/), onde ele atenta ao fato do aluno cotista ter sido o melhor da UEL.
A essa postagem, fiz os seguintes comentários:
"Ok, mas leia os números no final dessa reportagem sobre a UFPR: http://g1.globo.com/Notici
as/Vestibular/0,,MUL27514-5604,00-EVASAO+ESCOLAR+DE+COTISTA+E+VEZES+MENOR+DO+QUE+A+DE+NAOCOTISTA+NA+UFPR.html"
"Não sei, continuo achando q sistema de "cotas" é discriminatório. Eu tenho um filho negro e espero q ele passe pra faculdade por mérito, e não pq existe um "compromisso histórico" da sociedade para com ele pelo fato dele ser negro... O q eu queria é q eles ampliassem a rede pública de ensino básico e médio, com muito melhor remuneração e formação para os professores, de modo a permitir q mesmo o aluno pobre tivesse acesso pelo vestibular ou ENEM às universidades públicas. Não quero q meu filho seja considerado "diferente" ou "especial" por causa da cor da pele dele. Quero q ele seja cidadão, com os mesmos direitos e deveres de todo ser humano, no Brasil e no mundo. É a minha opinião, mas cada um tem a sua, né? E atentem pra esse trecho muito importante: "Segundo dados da UFRJ, mesmo com a adoção do sistema de cotas, no Vestibular 2011, entre os 4,8 mil estudantes aprovados 61,34 % eram oriundos de escolas particulares. Em seguida, estavam os que cursaram o ensino médio na rede federal (20,7%)." Amanhã podemos discutir como o sistema de cotas vai beneficiar mais ainda os alunos de ensino médio federal... Ah, q por acaso, ainda hj, na sua maioria, é oriundo de classe média e estudou antes em escolas (boas) particulares... Durma com esse barulho, Marconi!"
Depois dessa postagem no Facebook, li o artigo dele no blog (o que tem o link lá no início desse texto) e agora reproduzo aqui abaixo, pra quem não leu, as respostas que postei lá, editadas aqui em um texto só, para facilitar a leitura.
"Vou te dar a minha experiência pessoal e profissional, direto de Salvador (a cidade com maior percentual de negros do Brasil) e depois vc me diz o q achou, ok?
Partindo do q vc mesmo afirma: “Se isso acentuaria a discriminação? Talvez. Mas lembro que “discriminar” é identificar diferenças. Negros têm cor de pele diferente da de brancos, e só essa diferença. Não há nenhuma diferença quanto à capacidade cognitiva, e não deveria haver diferenças quanto às oportunidades sociais. Mas há nesta última.“
As cotas não só para negros, mas para diversas “minorias” (!?!?!, meio contra-senso isso, não?), e eu acho q não deveríamos acentuar as “diferenças” e ressaltar as igualdades! Na verdade acho essa história de cotas uma manobra política demagógica, pra conquistar as “minorias”, q na verdade representam a maior parcela da população (se não toda), q é de gente MESTIÇA e pobre!
Citando outro trecho seu: “Nossa elite social é branca e rica, tem acesso aos melhores colégios e cursinhos, enfim, a uma educação formal tão eficiente quanto o dinheiro pode pagar.”, vc mesmo corrobora a questão central de isso tudo: a elite aceita e apoia essa história de cotas como uma forma de aliviar a sua “culpa” por ser branca e rica (ou classe média, na sua maioria, se quer saber), pois apoiando as cotas se livra do sentimento q lhe impingem a todo momento por “300 anos de escravidão negra”, ou “pela tomada de mais de 90 % das terras indígenas”, ou ainda, por conta “das camadas pobres que não tiveram acesso a educação” e q, por todos esses motivos, jamais irão ascender socialmente se o Estado não intervir, dando uma de paternalista como sempre, e criar um sistema “especial” para essas situações.
Volto ao meu ponto inicial: temos que brigar por um ENSINOPÚBLICO FUNDAMENTAL E MÉDIO DE QUALIDADE EGRATUITO, que isso sim dará chance às minorias, maiorias, brancos, negros, azuis, amarelos, verdes e cor de abóbora de saírem da ignorância que são propositadamente mantidos para que aí sim, eles possam lutar com dignidade a favor de sua melhoria social, profissional e emocional, pois saberão se valorizar e saber pelo O QUÊ brigar.
De experiencia própria, sou professora universitária, em uma iES particular, e meu marido tb, na mesma IES e na UFBA. Em ambas as instiuições temos alunos multicolores, sendo q na particular eu dou aula na Enfermagem e Farmácia (maioria negra/mestiça) e ele na Medicina (maioria branca, o curso cuta 3000 reais a mensalidade). Meus alunos na esmagadora maioria são muito fracos e despreparados, pois vieram de escolas ruins, e os da Medicina são muuito bons, pois estudaram nos melhores colégios. Obviamente essa diferença faz com q, a depender do curso em que lecionamos, numa MESMAinstituição, um mesmo professor dê aulas diferentes e faça uma cobrança diferente, a depender de seu público. Se ainda é verdade q as universidades públicas tem “ensino de excelência” é pq, ao contrário as IES particulares, há “filtro” na entrada, um vestibular altamente concorrido que já seleciona quem tem melhor preparo anterior. E dessa forma, os professores das IESpúblicas podem exigir mais desses alunos, e dar mais conteúdo, e cobrar mais, pq os alunos responderão bem a isso, sem q ocorra a extinção de uma turma no decorrer do curso de graduação.
Concluindo: ao se criarem cotas especiais para alunos despreparados, seja pq motivo for, o mesmo irá se dar nas universidades públicas. E assim, não teremos chances de progredir nem na Educação Profissional, nem na Ciência e nem na Tecnologia. Sacou qual é o lance?
Em absoluto acho q as pessoas não devam ter oportunidade de se formar na graduação, na verdade meu sonho é que quando meus filhos forem pra faculdade, isso seja tão comum quanto é hj ter crianças na alfabetização (95% das crianças estão matriculadas e cursando: sabe-se q o ensino de todas não é igual, mas já é um começo)."
Bem, acho que ainda preciso ouvir mais opiniões para me convencer (ou não) de que estou errada. E reafirmo, acho a discussão pertinente e urgente, pois se ninguém falar mais nada e deixar as coisas irem correndo ao bel prazer dos políticos, podemos nos arrepender depois e não ter como corrigir a curto prazo.
Por favor, comentem e vamos levar adiante esse debate. Vamos celebrar a união e não a partição, ok?
Boa noite.


PS: Essa imagem lindinha peguei de outro blog (http://wwwamandinhaflorzinhacom-amandinha.blogspot.com/2011/05/origem-do-mundo.html) que tem poesias igualmente lindinhas. Visitem!

10 comentários:

  1. Querida Astria, obrigado pela referência a'O ESQUISITO, o que muito me honra. Li com atenção o teu texto e pretendo ler mais uma vez. É verdade que você trouxe argumentos fortes, me obrigando a repensar algumas coisas. Só por isso já valeu ter lido, obrigado.

    Por outro lado, alguns momentos talvez representem aspectos de foco: você está nessa ponta, do ensino universitário, e eu na ponta da formulação de políticas públicas como técnica (embora eu também seja professor, só que de pós-graduação em administração pública).

    A experiência pessoal sempre traz à tona alguns elementos invisíveis ao formulador, o que é perfeitamente natural. Mas são experiências pessoais e uma política pública é formulada para a coletividade, não para exceções. Agora, quando essas experiências pessoais passam a refletir uma parcela consistente e considerável dos atores, algo precisa ser feito, com certeza.

    Não me entenda mal. Extremos existem, mas não são úteis quanto se quer "união" e cooperação.

    Já digo que devo rever algumas coisas que ando pensando sobre o assunto e pontuando melhor outras. Voltarei aqui para continuar o debate. Beijos e abraços fraternais.

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  2. Bom, Astria, fui lá n'O ESQUISITO "me defender" (hehehe), mas faço uma cópia aqui de tudo que lá respondi. Beijos e a discussão não vai terminar tão cedo.

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  3. No. 1

    Não me referi a “minorias” (não acho que negros e pobres sejam minoria), mas a MARGINALIZADOS.

    Mas foi excelente tocar nesse ponto, pois me dá oportunidade de esclarecer o seguinte: política de cotas é uma política pública de INCLUSÃO SOCIAL e não de EDUCAÇÃO. Foi o que eu quis dizer quanto ao “problema-alvo”.

    Claro que há interação na política educacional, mas não estou dizendo que “cotas bastam para resolver a questão da educação pública”. Acho que a melhoria da educação pública deve vir JUNTO, até que não seja mais necessária a cota (como, aliás, ocorreu nos EUA até que a política de cotas se tornasse obsoleta).

    Outra coisa: saudoso Darcy Ribeiro dizia uma frase que revela muito “Mestiço é que é bom”. Agora, logo no início do texto eu disse que desprezo essa coisa de todos são iguais em TODOS os aspectos, por fascista. Mas acredito em um futuro onde a sociedade, mesmo identificando diferenças, saiba conviver com elas (e não ELIMINÁ-LAS), até que esse tipo de discussão não seja mais necessário, pois dane-se se o cara é negro, branco, índio ou arco-íris: o que importa é que é cidadão como os outros.

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  4. No. 2

    Volto a dizer: política de cotas é uma política de INCLUSÃO SOCIAL e não de educação.

    Creio que ainda é o momento de se estabelecer cotas. Assim como a questão da qualidade da educação pública não se resolve de uma hora para outra, também não é pra já a inclusão social.

    Mais: a educação fundamental (e média) é que tem a função de moldar o cidadão em um ser participativo, crítico e com capacidade de emancipação das condições sociais em que vive. Atribuir a Universidade (o ensino superior) essa tarefa só contribui para distorções. Quer dizer os técnicos serão cidadãos menores que o engenheiro? Não e sei que você não pensa assim.

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  5. No. 3

    Ok, Astria, você traz elementos muito relevantes aqui.

    Também sou professor (de pós-graduação) e sempre reflito no seguinte: se o cara entra “ruim” e “despreparado” e SAI “ruim” e “despreparado” acho temerário tirarmos qualquer culpa do professor. O professor incapaz de mudar a situação de seus alunos (não todos, claro) também não pode se colocar como vítima. Essa é minha reflexão sobre o papel do professor na educação.

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  6. No. 4 (para DENISE)

    Denise, há necessidade de políticas de prevenção MAS TAMBÉM de remediação. Além disso, que “problema” está se propondo resolver a política de cotas? Da educação? Não, nunca foi. O problema-alvo é a INCLUSÃO SOCIAL.

    Ah, sim, concordo contigo. Nota alta é uma coisa, apreensão de conhecimento outra.

    Mas sempre reflito no seguinte: se o cara que entra na universidade é ruim, despreparado e outras expressões humilhantes, e se forma “ruim”, “despreparado”, etc. o problema está na universidade, que não conseguiu mudar a situação. Sou professor, mas não acho que possamos tirar do professor (principalmente universitário) uma parcela considerável da “culpa”. Não.

    Há professores racistas, preconceituosos, etc. Ó só esse link: "Professor manda estudante voltar à África".

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  7. No. 5

    Me perdoe Astria, mas educação profissional, de ciência e tecnologia não se faz só na faculdade. Nós dois tivemos educação tecnológica e profissional em uma escola pública federal e não em uma universidade, que, na verdade, nos permite o APERFEIÇOAMENTO profissional e científico.

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  8. RESUMÃO (atualizei n'O ESQUISITO em 06.07.2011):

    1) Lembra do que escrevi sobre “problema-alvo”? Pois bem. A política de cotas nasceu como proposta de resolver um problema de INCLUSÃO SOCIAL e não de educação pública.

    2) Jamais disse que negros e pobres são “minoria”. Me referi a eles como “marginalizados”. Daí que representam o público-alvo de uma política de “inclusão social”.

    3) Concordo que há risco em se perpetuar uma educação pública fundamental “meleca” (obrigado Denise), se não houver políticas de educação consistentes. Mas acredito que as duas coisas podem caminhar juntas durante um tempo, até que as cotas virem obsoletas.

    4) Acredito que “mestiço é que é bom”, como diria o saudoso Darcy Ribeiro. Mas não precisamos de políticas homogenizadoras, que não vê diferenças. Creio que precisamos lidar com as diferenças e conviver com elas, pois só assim seremos um “povo educado, feliz, inteligente, e por isso, bons eleitores”.

    5) Se um estudante entra na faculdade despreparado e sai dela ainda despreparado o problema pode ter a ver muito mais com a qualidade da faculdade, oras. O professor deve refletir sobre seu papel e deixar de, a toda vez que se fala em “educação de qualidade” reclamar dos livros, da infraestrutura, etc. — vejam: estes aspectos SÃO NECESSÁRIOS, mas não são os únicos que precisam ser resolvidos.

    Por enquanto é isso. Olha, vocês conseguiram me fazer refletir sobre alguns pontos que escrevi, e gosto disso. São as vantagens de sempre se permitir ter a mente aberta.

    Abs. fr.

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  9. Bem, vamos lá: respondendo ao ponto no. #, que foi o mais crítico, pois acho que você não entendeu o que eu quis dizer. Eu NUNCA disse que meus alunos eram "ruins" e sim atribuí esse termo as suas escolas, que de fato, são ruins e por isso os deixam despreparados para a faculdade, o que também é fato. E também jamais disse que eles entram e saem da faculdade do mesmo jeito, porque aí seria, como você mesmo disse, assinar um atestado de incompetência de minha parte, já que eu sou uma das professoras deles e portanto, responsável pela sua formação. O ponto que ressaltei é o mesmo que Jesus (é, aquele mesmo)já dizia: "Àquele que mais se deu, mais será cobrado.", portanto sem existe uma base melhor para o desenvolvimento de uma disciplina, pode-se dar mais e cobrar mais. Aquele que tem pouca, ou nenhuma base, o professor tenta "tapar buracos" na sua formação, perdendo muito tempo ensinando coisas básicas, que ele deveria ter aprendido no ensino fundamental e médio, e deixa de dar mais coisas sobre a sua disciplina. Me diga como alguém pode se aprofundar em Bioquímica, que é a disciplina que eu leciono, se eu escrevo a fórmula da água (H2O) no quadro e o aluno não sabe a que me refiro? Ou ainda pior, escrevo a fórmula estrutural da glicose e uma aluna me pergunta "o que é esse monte de C com tracinhos que a senhora escreve toda hora no quadro?". Ou ainda, eu começo a falar sobre o transporte de glicose na membrana celular, vejo que a turma não está acompanhando, e pergunto sobre as estruturas básicas de uma célula e ninguém me responde nem "membrana, citoplasma, organelas e núcleo"????? Me diga, sinceramente, como um professor, que tem 40h de aula em um semestre repõe ( ou melhor põe) esses conhecimentos básicos na cabeça do aluno e ainda completa todo o seu programa da disciplina e ainda faz com que esse aluno se equipare a um outro que veio com todos os conhecimentos básicos e alguns avançados? O que fazemos: elencamos assuntos primordiais e fundamentais na formação daquela carreira, "tapamos os buracos" (possíveis) para a compreensão mínima daquilo que vamos introduzir referentes às nossas disciplinas e... rezamos para que aquele mínimo básico que nós ensinamos permaneça em suas mentes para que eles possam seguir adiante no curso e conseguir apreender algo mais sobre sua profissão. É muito duro alguém acusar esses professores nessas situações de se "fazer de vítima", porque não é esse ocaso, em absoluto. Sei que nossos alunos efetivamente (não todos, mas a maioria) saem muito melhores do que entram, até porque o próprio ENADE está aí para mostrar essa evolução. Mas um aluno que entra conceito UM e sai DOIS, teve um grande progresso, mas nunca poderá ser comparado (me perdoe, não poderá mesmo) a um que entra conceito 3 e sai 4 ou 5... Então, volto ao bate-estaca: TEM QUE MELHORAR, E MUITO, O ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO, pois essa é a única forma de melhorar o ensino superior, a sociedade, minimizar as diferenças sociais, raciais, etc.

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  10. Opa, Astria, pelo jeito não entendi mesmo o que vc quis dizer nesse caso. Me desculpe. Ficou parecendo um julgamento genérico meu e não foi isso que eu queria (mea culpa).

    Bom, você tem razão. Mas, convenhamos, como o sujeito passa pelo vestibular para um curso que tem bioquímica como disciplina e não sabe o que é H20 e os "C com tracinhos" da Glicose? Que seleção é essa, caramba??? Aí é que os professores se ferram, sem ter culpa.

    Querida, beijos e abraços, nessa discussão que nunca termina.

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